Nos últimos anos, temos acompanhado um boom no oferecimento de produtos e serviços desenvolvidos especialmente para cada consumidor. Da simples escolha do revestimento do banco do seu automóvel até a customização de um tênis com base nas suas fotos do Instagram (sim, isso é possível), as marcas têm proporcionado inúmeras possibilidades para o usuário se sentir único e especial durante sua experiência de consumo. E o consumidor ainda deseja isso? Talvez não.

Passamos pela fase da formação de clãs, como identificaria Faith Popcorn, onde, mais do que encontrar pessoas que compartilhassem interesses comuns, o importante era se sentir e fazer parte de um grupo. Clubbers, yuppies, rótulos não faltavam. Como uma reação contrária a isso, acompanhamos uma fuga coletiva do conhecido. Bandas sobre as quais ninguém nunca ouviu falar, marcas recém-criadas, o legal passou a ser trazer algo diferente.

Esse cenário trouxe um consumidor mais interessado no que cada produto, como bem único, tem a oferecer. Valorização do comércio local, produções independentes, artesanais, produtos com sentido e história, fora do que estivesse sendo consumido em massa. A cultura hipster, forte expoente desse cenário, trouxe para o mercado o renascimento de muitos produtos antes esquecidos (ou até considerados ultrapassados), pelo simples fato de serem diferentes do que estava em todas as lojas, e assim se tornando algo cool perante os demais produtos já massificados.

Do outro lado, ainda temos o mercado de luxo tentando propiciar um “consumo exclusivo”, como grandes marcas que ainda oferecem a possibilidade de você inserir suas iniciais nos produtos, numa tentativa de tornar aquilo único para seu público mais antigo e fiel, visto que a massificação do luxo tem derrubado parte da barreira da exclusividade.

Cansado dessa busca interminável pelo ‘eu’ através do consumo, tem-se acompanhado o surgimento de um novo perfil de consumidor, que busca exatamente o contrário: quer ser comum, normal. A esse movimento, foi-se denominado normcore.

O termo normcore foi introduzido pela agência de pesquisas norte-americana K-Hole, em parceria com o observatório de tendências Box 1824, num estudo de 2013 denominado “Youth mode: a report on freedom”, trazendo à discussão o fato de que se a regra atual é ser diferente, o que pode diferenciá-lo dos demais é o fato de você ser normal.

Assim como boa parte das tendências comportamentais, o normcore traduziu-se fortemente na maneira como as pessoas se vestem, sendo considerada mais do que uma tendência fashionista, mas sim uma atitude, uma resposta a um mercado saturado por um estilo de consumo egocêntrico. Abandona-se o estilo over, com monograma por todos os lados, e adota-se uma maneira despretensiosa e naturalmente elegante e confortável de se vestir, onde os básicos voltam a ser desejáveis, como definiu a revista Vogue Brasil.

Diversos veículos, como o jornal americano “The New York Times”  e o britânico “The Guardian”, têm trabalhado em cima do tema, procurando retratar e entender esse novo perfil de consumidor que pode vir a exigir uma reformulação no oferecimento de produtos e serviços no mercado atual.

Se essa será uma tendência passageira ou que ganhará força e mais adeptos, o mercado dirá; entretanto, já se estabelece às empresas, neste momento, uma reflexão: como oferecer uma experiência de consumo que as diferencie dos concorrentes num mundo onde o legal é ser comum, normal?

Por Cássia Chassot, administradora em formação, publicitária. Comportamento do consumidor, neuromarketing, design de serviços e inovação.

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