O vinho Casillero del Diablo da Viña Concha y Toro é muito apreciado em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Mas o que isso tem de aderente ao título desse texto? Tudo!

Em 1883, Don Melchior (fundador da Concha y Toro) trouxe cepas da região de Bordeaux na França, plantou em sua viña no Chile e produziu um vinho maravilhoso. Tão maravilhoso que ele reservou uma quantidade em sua bodega para consumo próprio em ocasiões especiais. Com o passar do tempo, a fama de seu vinho atraiu a atenção de muitas pessoas, inclusive de um ladrão, que roubava constantemente algumas garrafas de sua bodega.

Don Melchior estava preocupado e ficou pensando o que poderia fazer para impedir a ação desse larápio… Foi quando pensou em contar uma história.

Ele teve a ideia de criar um boato sobre um diabo que habitava sua bodega e que era seu guardião. O boato ganhou fama rápido e os assaltos acabaram. Assim nasceu, em 1891, a lenda do Casillero del Diablo.

Don Melchior não se preocupou em ter a figura de um diabo associada ao seu produto e usou o poder das histórias de forma fantástica. Um dos erros de muitas empresas quando se trata de estratégias que utilizam storytelling é justamente associar personagens super perfeitos as suas marcas.

A lógica de qualquer história é basicamente a utilização do arco do personagem. Ou seja, todo personagem, principalmente os heróis passam por uma transformação ao longo da trama e por isso possuem defeitos. Isso acontece com todos nós, nos transformamos continuamente. Não somos a mesma pessoa de cinco anos atrás e nem seremos o que somos hoje daqui a quinze anos. E por que nos transformamos? Porque algo acontece durante o nosso caminho na vida.

O arco do personagem pode ser divido como:

Crescimento: O personagem ultrapassa um desafio interior (medo, o passado, etc.) enquanto enfrenta uma ameaça externa e se transforma em uma pessoa melhor.
Transformação: A clássica jornada do herói, em que o protagonista percorre um determinado trajeto até sair valorizado no final da história.
Queda – Arco que segue o protagonista num processo em que este cai em insanidade, imoralidade e/ou morte.

É a mesma coisa com os personagens. Algo acontece ao longo da trama que fará o personagem se transformar. E é justamente isso que dá um brilho todo especial a qualquer história. É justamente por isso que nos identificamos com os personagens. Por conta disso, as empresas não deveriam desconsiderar a sutileza dos pontos fracos do herói que associará à sua marca. Até o ser humano mais bondoso tem defeitos.

No mundo atual, onde a guerra por atenção é quase sanguinária, o que nos atrai é aquilo que se assemelha conosco, seja consciente ou inconscientemente.

As histórias têm poder e quando as utilizamos no mundo corporativo, mais ainda. Principalmente quando são construídas de forma autêntica, com personagens com defeitos e fraquezas normais, mesmo que o cenário seja em uma floresta encantada ou em uma metrópole moderna. O cenário, a ambientação é muito importante, mas nada disso terá poder de fogo sem personagens factíveis.

E aí? Gostou? Utilize o storytelling em sua estratégia!

 

Por Evelyn Cordeiro, diretora no Grupo EP Business, Customer Experience Specialist, Escritora e Coach.