Quando foi lançado, em 4 de fevereiro de 2004, o Facebook não passava de um serviço para estudantes de Harvard acompanharem a rotina de seus colegas.
Mark Zuckerberg, criador do site, era um cara baixo, magro, introvertido e com dificuldade de conquistar garotas. Vestia calça jeans larga, chinelo de borracha e uma blusa de moletom com gorro.
Dez anos depois, o Facebook saiu das fronteiras do campus da universidade norte-americana: é usado por mais de 1 bilhão de pessoas ao redor do planeta, fatura alto com publicidade e vale quase 150 bilhões de dólares.
Zuckerberg também mudou. Está mais forte, extrovertido e casado com a chinesa Priscilla Chan desde maio de 2012. Ainda usa jeans e agasalhos de moletom, mas trocou as sandálias por um par de tênis esportivos. Um dos jovens mais ricos da atualidade, possui uma fortuna avaliada em 19 bilhões de dólares.
Na semana de aniversário do Facebook, o mundo se pergunta qual será o próximo capítulo da história da maior e mais revolucionária rede social já vista – e como o dono da mente por trás dela estará no futuro.
Apesar de seu ritmo de crescimento ter diminuído, é impreciso dizer que o Facebook não existirá ao fim da próxima década. Alguns movimentos realizados pela empresa recentemente dão sinais de que o serviço passará por um constante processo de reinvenção até 2024. Movimentos que poderão tanto deixá-lo mais forte quanto trazer sua ruína.
Ao gosto do freguês
A fim de conter a fuga dos adolescentes, a rede social deve abandonar seu caráter universal e aproveitar a fragmentação da audiência. Em vez de tentar atender diferentes gostos e interesses num mesmo espaço, o Facebook buscará adquirir e desenvolver múltiplas soluções simples para dispositivos móveis.
O movimento começou em 2012 com a compra do Instagram por 1,1 bilhão de dólares. No ano passado, a empresa tentou arrematar por 3 bilhões de dólares o SnapChat, aplicativo de compartilhamento de vídeos e fotos que se autodestroem. A oferta acabou sendo recusada.
Paralelamente, Zuckerberg criou uma nova divisão na companhia, chamada Facebook Creative Labs, para projetar uma série de aplicativos que exigirão ou não o login com uma conta da rede social. Em tempos de valorização da privacidade, também será possível manter o anonimato em alguns desses serviços.
A primeira grande iniciativa do Facebook Creative Labs é o app Paper, um leitor de notícias similiar ao Flipboard. O Paper exibirá postagens de acordo com um algoritmo e a curadoria feita por uma equipe de editores. Por ora, não serão veiculados anúncios.
Audiência mais qualificada
No fim do ano passado, o Facebook passou a privilegiar conteúdos produzidos por jornais e revistas nos feeds dos usuários. Menos social, a mudança aconteceu após a organização admitir que os anunciantes terão de pagar mais se quiserem atingir um público maior.
As duas novidades fazem parte de uma mesma estratégia da plataforma para ampliar seus ganhos com publicidade. Atingir esse objetivo com números de audiência já não é suficiente: o Facebook precisa compor um ambiente qualificado para a exibição de propagandas se quiser cobrar mais das marcas. Afinal de contas, quem deseja ver seus produtos num mar de memes?
Assim, a rede social estaria optando por oferecer um espaço de relacionamento voltado para os interesses de formadores de opinião e consumidores de fato. Sob essa perspectiva, a saída dos jovens do site não seria tão danosa para a empresa, que estaria pronta para recebê-los em seus novos aplicativos.
Prestação de serviço
Desde que lançou sua busca social, o Facebook começou a dar os primeiros passos para ajudar os usuários a resolver problemas com base na enorme quantidade de dados que armazena.
No serviço, é possível descobrir novos contatos a partir de interesses e preferências e encontrar respostas para diversas necessidades. Dá para pesquisar “pizzarias em São Paulo visitadas por meus amigos” ou “amigos que curtem Modern Family”, por exemplo.
Esse é um grande ativo que o Facebook deverá explorar nos próximos anos, entrando numa seara hoje dominada pelo Google.
Internet para todos
Em agosto de 2013, Zuckerberg anunciou a criação do projeto Internet.org, que pretende reduzir os custos de acesso à internet em nações em desenvolvimento.
Por trás da nobre iniciativa, está o projeto de expansão da rede social para Ásia, África e América Latina. Mercados extremamente saturados, Estados Unidos e Europa dificilmente darão ao Facebook seu próximo bilhão de usuários.
Ao levar internet para esses continentes, Zuckerberg também pode abrir uma nova fronteira de negócios. Com a ajuda de players como Nokia, Qualcomm, Samsung e Ericsson, o Internet.org está investindo em ferramentas que aprimorem a transmissão e reduzam o custo do fornecimento de dados.
Segundo uma reportagem do The New York Times, o movimento tem o potencial de mudar a forma como o mundo usa o espectro wireless (sem fio) e representar um business de 1 trilhão de dólares.
O fator Zuckerberg
É extremamente difícil prever o que acontecerá com o Facebook nos próximos dez anos. Mas uma coisa é clara: não podemos menosprezar a agilidade peculiar da empresa diante das mudanças – e a inquietação de seu criador.
Se em apenas uma década um estudante conseguiu criar um site que transformou a internet e o jeito como nos conectamos, imagine o que ele ainda pode fazer.
Disse um executivo que trabalhou com Zuckerberg ao jornalista David Kirkpatrick, autor do livro O efeito Facebook: “Ele está sempre pensando no próximo objetivo. Para a maioria das pessoas, existem etapas e platôs que, quando alcançados, permitem que elas descansem, celebrem e se sintam realizadas. Isso realmente não existe para Mark”.
Por Eliseu Barreira Junior – Exame.abril.com.br
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